Esta semana o governo de José Sócrates falhou. A oposição não concedeu ao governo a oportunidade de obter mais receitas para a segurança social, através da não aprovação do novo Código Contributivo. O objectivo deste texto é propor uma alternativa de receita por parte deste governo depauperado.
Após diversas horas nem sempre proveitosas e muito menos compensadoras, passadas a ver jogos de futebol, apercebi-me do seguinte fenómeno. Todos os clubes, principalmente os que têm orçamentos mais reduzidos, produzem a cada ano novos equipamentos carregados de publicidade e obrigam os treinadores a utilizarem uns ridículos chapéus, sobretudo quando acompanhados por vistosos fatos e gravatas, que publicitam supermercados, lojas de bricolage, companhias de seguros, entre outras empresas.
Pior do que isso são as conferências de imprensa. Após jogos desgastantes os atletas são obrigados a falar para dezenas de câmaras com os dignos chapéus na cabeça, e garrafas da água do Luso, Coca-Cola e cervejas Sagres mesmo em frente ao seu nariz sem que lhes possam tocar, por vezes impossibilitando-os de se mexer convenientemente.
Às garrafas somam-se os painéis publicitários atrás de si, os anúncios com antigos craques na televisão e ainda, moda mais recente, a alteração do nome dos estádios que deixam de possuir nomes de impulsionadores do desporto, de notáveis do clube ou mesmo do próprio presidente como é o caso do Eng. Rui Alves e de Avelino Ferreira Torres, para passarem a ter nomes de seguradoras ou de companhias aéreas.
Em suma, no mundo do futebol, tudo é pretexto para se fazer dinheiro. Qualquer recanto de um estádio, qualquer entrevista ou capa de jornal, estão impregnados de publicidade pois esta é a maior fonte de receita dos clubes. Esta fervorosa propaganda possibilita-lhes assim investir rios de dinheiro em jogadores extracomunitários que normalmente acabam dispensados por inadaptação, o que não é de estranhar pois o nosso futebol requer experiência acumulada para que se consiga perceber a sua essência singular.
Se o Governo utilizasse a técnica das garrafinhas de Coca-Cola durante as conferências de imprensa do Primeiro-Ministro, entre outras técnicas empregadas pelos clubes para fazer dinheiro, alguns milhões anuais poderiam ser aplicados em obras do interesse dos contribuintes. É esta a minha tese.
Para além dos painéis e garrafas de refrigerantes os ministros poderiam utilizar chapéus de cadeias de supermercados como o DeBorla por exemplo, bem como t-shirts brancas dos cafés Delta como traje oficial. Poderia inclusivamente dividir-se as bancadas da Assembleia da República como nos estádios, passando estas a serem identificadas pelo nome dos patrocinadores em vez do nome dos partidos. A bancada do CSD passaria a designar-se bancada TMN, a do PSD bancada OPTIMUS e a do Bloco de Esquerda, Vodafone, fazendo uma correspondência entre a cor dos partidos e a das operadoras, claro está.
A Assembleia da República poderia passar a chamar-se Assembleia TAP e o púlpito onde o Primeiro-Ministro discute, ou será melhor dizer acusa de forma fervorosa, estaria coberto de publicidade ao Continente, Aki ou Compal. Nenhuma empresa seria descriminada, o importante seria fazer bons contratos que possibilitassem boas aquisições para o país.
Esta minha proposta pode parecer uma brincadeira de mau gosto de quem despreza a política, mas não o é. A propaganda política não é tão rara como possamos pensar. Basta contabilizarmos as vezes que o Primeiro-Ministro proferiu a palavra Magalhães durante os últimos dois anos.
Descabida ou não, esta ideia parece-me bastante razoável. Permitiria ao governo amortizar uma parte da dívida que agudizou e ao mesmo tempo ver José Sócrates ou mesmo Pedro Silva Pereira a discursar perante o Parlamento com os seus fatos BOSS e chapéu do Pingo Doce.
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