Ontem pus-me a pensar no desprezo que os portugueses, genericamente, sentem pelos políticos e cheguei à conclusão de que o Povo, essa entidade tão heterogénea, está cansado de ver as mesmas caras, ouvir as mesmas vozes, os mesmos discursos inócuos e sentir o cheiro a passado putrefacto de boa parte dessas figuras.
Creio que todos veríamos como bem-vinda uma renovação da nossa classe política mas interrogo-me se esta traria, de facto, alguma melhoria para o país. Sou tendencialmente avesso a revoluções e parece-me uma pergunta legítima. Como efectuaríamos essa mudança? Caso a concretizássemos onde colocaríamos estes indivíduos que nunca fizeram nada na vida que não envolvesse o Estado? Depois, quem colocaríamos no seu lugar e em que proporção? Um novo funcionário por cada duas vagas? Um por cada três? Ou três por cada uma?
Todas estas perguntas são difíceis de resolver, mas o que mais me preocupa nesta hipotética renovação dos políticos nacionais, é que estas vagas seriam obrigatoriamente preenchidas por jovens confiantes mas obtusos, vindos das mais variadas Jotas. Estaríamos portanto a substituir “boys” incompetentes mas experientes na arte da intriga por “boys” inexperientes mas com vontade de sangue. Para quê então mudar? Ao menos já conhecemos os actuais políticos há décadas.
Percebem assim qual a minha tese. A única maneira de dotar a política portuguesa de pessoas com capacidade, com coragem e sentido de dever é fora desses antros que os partidos representam. Precisamos de indivíduos com formação, com provas dadas nas suas áreas de especialidade, independentes da política, das nomeações do Partido e que, fundamentalmente, não necessitem da política para se promoverem. O problema da minha tese reside na falta de vontade destas pessoas para se dedicarem à política, sobretudo por estarem, também elas, fartas destes caciques, recolectores de “tachos”.
Para que é que um notável economista, gestor, médico, professor, ou qualquer outro excelente profissional independente, abandonará a sua actividade para ser ministro ou secretário de estado? Será constantemente confundido com o “resto da corja” e auferirá muito menos do que o devido. Só um masoquista abdicará de um bom ordenado em prol de um emprego mal remunerado, não reconhecido e que só o desgastará. Parece-me urgente que se aumente a remuneração dos nossos políticos, para que os verdadeiramente capazes se sintam recompensados pelos seus reais sacrifícios.
Enquanto a maior fonte de recrutamento dos nossos políticos forem os partidos e as respectivas juventudes, versões imberbes dos primeiros, ninguém poderá estar satisfeito com os seus representantes. Alguém que precisa desesperadamente da política e dos seus “tachos” nunca será um bom governante, dado que a sua lealdade será para com o partido e não para com a restante população.
Nunca o país evoluirá enquanto os partidos necessitarem de “jobs for the boys” e, já agora, “boys for the jobs”. No entanto, falta coragem aos nossos governantes para avançar. Até por que a maioria destes não vêem qualquer necessidade de mudança. A chegada de pessoas competentes à política far-lhes-ia sombra, a rede de solidariedade social que o conjunto dos “boys” representa deixá-los-ia desprotegidos e, no fim de contas, estes conseguirão a sua remuneração, mais cedo ou mais tarde, quando chegar a sua vez de administrar a EDP, a PT, ou quem sabe, uma qualquer empresa privada, sequiosa dos seus prodigiosos serviços.
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