Através de uma catadupa de notícias alarmistas, tomei conhecimento de que a reserva nacional de sangue estava debilitada. Dirigi-me ao hospital de Torres Novas, recente e bem equipado, para contribuir com poucos centilitros de altruísmo, ou se preferirem, de puro auto-regozijo pela minha generosidade.
Dada a urgência da situação, nem sequer questionei que o serviço pudesse estar fechado, mesmo tratando-se de uma manhã de Sábado. Para quê apelar à boa vontade dos cidadãos, para quê fazê-los perder o seu tempo, para depois frustrar a sua boa resposta? Provavelmente se fosse um pouco mais velho, se tivesse alguns anos mais do que é ser português, tivesse agido de forma mais cautelosa, menos apaixonada, e procurado conhecer o horário de recolha antes de me dirigir ao hospital.
A verdade é que no hospital de Torres Novas só se efectuam colheitas de sangue aos sábados de manhã uma vez por mês e eu não tinha acertado com o dia. Na inocência da minha juventude acreditei piamente que situações extraordinárias requeriam medidas extraordinárias. Não pude dar sangue naquele Sábado, há umas semanas atrás, mas hoje regressei, em dia estipulado, para consumar a dita recolha. Como seria de esperar o serviço estava a abarrotar e as minhas expectativas goraram-se novamente.
Apesar de tudo não desisti, ainda. Pior do que deixar alguém morrer por indisponibilidade de umas míseras gotas de sangue, por puro desinteresse da sociedade, é permitir que tal aconteça quando alguém se interessou, quando alguém quis de facto ajudar o moribundo com as suas mínimas mas vitais gotas.
Sugiro a todos os Torrejanos, aos poucos que lerem este comentário, que se dirijam daqui a um mês ao hospital. Talvez um novo dia de sala cheia e de ajuda desperdiçada façam os responsáveis alargar o diminuto período de recolha.
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