segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Inimigo Ininteligível

Introduzo esta música e letra de Sting, plena de oportunidade bem como de sensibilidade, editada na década de 1980, para defender o seguinte argumento: A grande dificuldade do Ocidente na sua luta contra o terrorismo/fanatismo islâmico reside na nossa incompreensão da sua cultura e das suas razões.

A Guerra Fria não passou disso mesmo, de uma ameaça permanente e crível num eventual ataque letal do outro bloco, porque as diferenças entre um e outro eram fundamentalmente ideológicas. Sting percebeu-o claramente, como esta letra magnífica bem demonstra. A Guerra Fria não terminou em Apocalipse porque tanto os Americanos e seus aliados como os soviéticos e os seus subjugados amavam os seus filhos e temiam a destruição maciça. Sabiam que a ideologia não os salvaria de bombas nucleares ou mísseis de longo alcance.

O novo inimigo do Ocidente não tem medo. Felizmente nunca tive qualquer experiência militar, mas é evidente que um inimigo temerário e suicida é o mais perigoso. Provavelmente os agentes do KGB estariam dispostos a dar as suas vidas por uma ideologia ultrapassada e viciosa mas não estavam dispostos a dar a dos seus filhos. O mesmo não acontece com os terroristas islâmicos. Estes acreditam na vida para além da morte e sentem-se honrados por perderem um filho que seja responsável pelo assassínio de ocidentais, imperialistas e infiéis, segundo crêem.

Esta ideia não é nova, longe disso, muitos a defenderam antes de mim. Tenho contudo a sensação que Huntington talvez estivesse mais certo no seu The Clash of Civilizations do que Francis Fukuyama no The End of History, apesar de tudo uma grande obra e a meu ver imensamente mal interpretada. Não querendo ser confundido com grupos alarmistas, um tanto paranóicos e muito menos com grupos xenófobos e intolerantes, o que é facto é que este inimigo veio para ficar, já nos afectou fortemente várias vezes e não está disponível para dialogar.

Falamos de religião e não de ideologias. A China actual é a prova de que, com vontade, podemos contornar facilmente uma ideologia. A religião não é contornável para este tipo de crentes. Estamos perante duas mentalidades diametralmente opostas que tenderão a arriscar hegemonizar-se. O Ocidente sonha expandir a Democracia e a rule of law ao resto do mundo e os extremistas islâmicos estão mais interessados em converter-nos ou aniquilar-nos. A questão mais pedestre parece-me a seguinte: Devem os EUA continuar a impor a sua “razão de viver” a quem não a deseja, agudizando o ódio deste inimigo inflexível, globalizado e sem rosto?

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