sábado, 11 de setembro de 2010

Chumbo de um Governo Socialista

Nos últimos tempos assistimos a uma mini polémica, ou antes, a uma aventada polémica que não chegou a sê-lo, desencadeada por uma extraordinária entrevista da Ministra da Educação ao semanário Expresso.

Em pequeno fui um leitor assíduo de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães nas mais diversas colecções literárias infantis, e os seus pequenos livros de aventuras sobre a história de Portugal despertaram em mim todo o interesse nessa disciplina. Para além da decepção, esta entrevista foi para mim como que a emulação de um mito.

Quando Isabel Alçada aceitou pertencer a este executivo fiquei algo, pouco, esperançado numa qualquer melhoria do nosso sistema de ensino. Ao ler esta sinistra entrevista percebi que este Ministério não tem qualquer intenção de fazer um trabalho sério. A Sra. Ministra aprendeu rapidamente com os seus colegas de governo e falou-nos com o mesmo despeito e a mesma jactância da sua antecessora.

Pregou-nos A verdade, única e irrefutável, com o habitual sorriso cínico dos seus colegas, referiu-se subliminarmente aos eleitores como gente pouco informada, inculta, pouco viajada e esteve próximo de afirmar que não somos suficientemente capazes de entender a sua ímpar e benévola reforma para educar, quem sabe doutrinar, as crianças, jovens e talvez os seus pais, caso lhe dêem uma oportunidade.

A entrevista a que me refiro não passou de uma tentativa fracassada de camuflar as reais intenções deste governo: Diminuir as despesas provocadas pelos chumbos, na nova nomenclatura mais conhecidos por retenções, e ludibriar-nos com mais estatísticas que demonstram um alegado sucesso escolar. Em matéria de educação, mas não só, os sucessivos governos têm-se dedicado a presentear os burocratas da União Europeia com belas estatísticas que em nada beneficiam os alunos portugueses, sobretudo os que dispõem de menos recursos e têm mais dificuldades de aprendizagem.

Camuflar o insucesso escolar, impedir que os alunos fiquem “retidos”, fazer os possíveis para que estes aprendam o menos possível, sujeitando-os bem como aos seus professores, a perder tempo com actividades inúteis, não deve ser, no meu humilde entender, a prioridade do Ministério. O Ensino Público deve copiar os Países Escandinavos e da Europa Central na exigência e no reconhecimento pelo mérito de alunos e professores.

Este é o único caminho seguido por todos os países competitivos e realmente letrados e educados do mundo. A escola pública deve ensinar a todos de maneira semelhante, dado que só assim se esbatem verdadeiramente as diferenças sociais, e premiar aqueles que cumprirem os “objectivos”, como referiu a Sra. Ministra. Como é manifesto, estes objectivos terão de ser exigentes dado que o facilitismo apenas conduz à ignorância e à incompetência.

Acabar o 12º ano com uma preparação que corresponda a um 9º ano dos países da Escandinávia não é o melhor caminho para “a convergência com a Europa”. Já é tempo de pararem de nos informar que os países do Sul são cultural e, quem sabe, intelectualmente inferiores aos do Norte da Europa. A única diferença entre o Sul e o Norte é a exigência do ensino e esta não se prende com as “retenções”. Já é tempo deste executivo entender que não deve falar com os seus eleitores como quem doutrina crianças da 4ª classe. Já é tempo de acabarem com essa insidiosa “missão evangelizadora” tipicamente socialista.

2 comentários:

Unknown disse...

Boas João Tiago.
Disseste umas quantas verdades. Tentam atirar-nos areia para os olhos com números (uns a subir quando convém, outros a descer quando lhes dá mais jeito).
Continuo sem entender como é que a educação (e a saúde) podem dar lucro? Mas isso se calhar sou eu que sou muito burro e como tal, não entendo. Mas sinceramente acho que não são sítios onde se possa cortar. Outros há onde o deviam fazer e não fazem, mas isso fica para depois se falar.
Quanto à educação, acho muito sinceramente que não é a passar ,ainda mais, à balda que as coisas se resolvem. Certo é que isso fará com que as retenções/chumbos diminuam, mas não fará de nós melhores.
Se ao invés de passarem todos a qualquer custo, se preocupassem a ensinar bem, a estimular os melhores alunos (que existem em todas as turmas desde sempre) e a apoiar os alunos menos bons, motivando-os e mostrando-lhes que afinal também são capazes, se calhar os números eram mais favoráveis e justos! Só que como todos sabemos isso tem custos, menores que as retenções de certeza, e com fins muito mais positivos. E desta forma teríamos a base de um país desenvolvido, de um país culto e não de um país medíocre onde tentam atirar números às pessoas mostrando que o que é mau, afinal é bom.
O grande mal é que olhamos para os países-modelo e em vez de os tentarmos copiar desde a base não o fazemos e atalhamos. Atalhamos por onde não dá (não devia dar) para atalhar. Começamos pelos números positivos (embora falsos) em vez de começarmos pela base.
É pena que assim seja. É ainda de ter mais pena que o digam como se fosse muito positivo.
Somos um país com uma educação medíocre. Como dizia o Dr. Medina Carreira esta semana "formamos analfabetos". E é verdade!

Um grande abraço,
Pedro Borga

João Tiago Gaspar disse...

Caro Pedro,

Antes de mais, obrigado pelo teu comentário. Deves ser o único individuo que ainda se digna a ler este blogue miserável. =P
Tens toda a razão. Estes números esteticamente apetecíveis só servem para mostrar em Estrasburgo/Bruxelas. Só nos trazem incompetência, milhares de licenciados sem qualidade suficiente e que acabam por trabalhar noutras áreas e mais despesas estatais.
A única solução é ensinar melhor, exigir mais, ajudar quem necessita e premiar quem se esforça. É pena que a chamada "educação liberal" não traga votos...

Grande abraço,
JTG